Depois de três prémios no Doclisboa, o filme As Melusinas à Margem do Rio, de Melanie Pereira, é apresentado no Porto/Post/Doc a 18 de novembro, sábado, às 15:00, no Batalha Centro de Cinema. A longa-metragem, que reflete sobre a busca de identidade através do diálogo da cineasta com quatro filhas de emigrantes nascidas no Luxemburgo, contou com o apoio da Filmaporto — film commission.
Foi em 2018, com Aos Meus Pais, filme de licenciatura onde Melanie Pereira abordava o processo de migração dos progenitores de Portugal para o Luxemburgo, o ponto de partida para As Melusinas à Margem do Rio. A longa-metragem teve estreia no Doclisboa e integrou o circuito dos festivais de cinema. “Perante a receção positiva do público, que se identificava com aquelas questões, decidi abordar o mesmo tema, mas pelo ponto de vista dos descendentes — que apesar de terem nascido ou crescido no Luxemburgo também são considerados emigrantes”, explica a cineasta.
As Melusinas à Margem do Rio parte do diálogo de cinco mulheres — entre as quais a cineasta que nasceu e cresceu no Luxemburgo —, todas elas filhas de emigrantes, para acompanhar uma busca de identidade entre a cultura dos pais e a cultura do país onde cresceram.
A lenda de Melusina, figura do folclore associada à fundação de Luxemburgo presente ao longo do filme, serve de metáfora para estas descendentes. “Segundo o conto, a Melusina é uma mulher com cauda de peixe que acabou aprisionada no rio. Achei interessante o facto de uma figura feminina representar o país. Percebi que também ela pode ser considerada uma emigrante, pois vai-se transformando em várias partes do mundo”, explica Melanie Pereira. “A certa altura, pensei que, na verdade, as mulheres que estão representadas no filme, eu e todos os descendentes de emigrantes, somos todos um pouco Melusinas — e estamos à margem do rio porque estamos presos entre identidades”.
Segundo a cineasta, o processo que decorreu ao longo de cinco anos foi também uma fase de autodescoberta. “Houve uma busca por tentar identificar um sentido de pertença e de encontrar alguma paz no que toca à minha identidade. No filme, falamos em fragmentos e eu penso que é isso: tentar encontrar paz em ter uma identidade fragmentada e aceitar que é assim em vez de tentar encontrar um lugar de pertença associado a um território. O filme também coincidiu com o momento da quebra da ilusão em que me mudei para cá e Portugal deixa de ser o país idealizado, que me era descrito como o país de regresso, da casa de família.”
Neste momento, Melanie Pereira encontra-se a desenvolver, de forma independente, uma curta-metragem em homenagem à falecida avó com a colaboração de familiares. Em simultâneo, está a trabalhar na longa-metragem A Terra das Viúvas dos Vivos, com a produtora portuense Red Desert. O filme acompanha as duas últimas transumantes — que se deslocam sazonalmente com os seus rebanhos para locais que oferecem melhores condições — de Castro Laboreiro e a transformação vivida, nos últimos anos, naquela zona.